quinta-feira, 5 de abril de 2012

Mário Dos Martins Coelho por Walmar Coelho

O TIO MÁRIO

Imagem personificada da bondade foi o meu estimado tio Mário! Foi bom como filho, irmão, esposo, pai, tio, cunhado e amigo.
Suas excelentes virtudes eram afloradas no comportamento sem defeitos desse meu querido tio. A admiração e o carinho por sua pessoa chegavam naturalmente a todos de seu convívio, pela afabilidade e maneira suaves de trato que lhe eram peculiares.

O ADVOGADO

Meu pai falava por repetidas vezes.
- O Mário nunca teve infância!
Ele afirmava que o tio Mário, jamais participou dos folguedos infantis, pois os livros sempre foram o seu afã e seu interesse primeiro.
Com o passar do tempo, lhe veio a erudição que não encontrava limites, já que todo assunto era alvo de sua curiosidade e saber. E mais adiante chegou-lhe, por consequência, a cultura invejável.
Uma prova da sua capacidade intelectual, foram as provas na Faculdade de Direito. No seu tempo, a avaliação curricular era feita com os “exames preparatórios”, realizados ao final de cada ano.
Tio Mário acertava com um bedel para tirar-lhe as faltas e tornava imediato para estudar sozinho na sua querida Cascavel. Só vinha à capital, novamente, no final do ano, para prestar os exames preparatórios dos quais sempre se saia galhardamente!
Sua sapiência também se estendia ao domínio das línguas, sobre as quais tinha um domínio de poliglota.

CAVALGAR, o verbo.

À minha mãe, professora primária fez um comentário elogioso a meu respeito, quando eu me iniciava na leitura e na presença do tio, mencionei uma frase com o verbo cavalgar. Ele de imediato comentou com minha mãe.
- Nenzinha, este menino já conhece e usa este verbo! Ele promete muito.
Deixou-nos envaidecidos, a minha mãe que era professora primária e a mim, o comentário valioso do meu ilustre tio e era este o primeiro encontro que lembro ter tido com o mesmo!

HABEAS CORPUS
Em outra oportunidade fui convidado por ele e tia Walyria, cujo tratamento familiar era Liló, com seus filhos ainda pequenos, para uma praia que costumava veranear.
Eu já era mais crescido que seus rebentos e devia ter em torno de dez anos.
Lembro-me que era uma casa espaçosa, sem luxo mas confortável, tinha uma varanda grande e diversas redes armadas no local.
Eu me acomodei numa rede e comecei a ler um livro de tamanho incomum, tinha aproximadamente 12x12cm e com uns 8 a 10 cm de altura! Tratava-se de uma aventura do detetive americano Dick Tracy, famoso em histórias em quadrinhos, o que não era o caso por tratar-se de narrativa em estilo de romance policial e com poucas ilustrações!
No meio da história, eu não entendi direito, os personagens do conto falavam em “Habeas Corpus”. Interpretei que este era o nome de uma pessoa da narrativa. Lancei uma pergunta, com a maior ingenuidade.
- Tio Mário, quem foi Habeas Corpus? Meu tio soltou uma estrepitosa gargalhada, antes de explicar-me pacientemente que aquele nome que achei tão estranho, era uma figuração recorrente do direito que era seus domínios.
A sua paciência por dar explicações era tão agradável, que nós os sobrinhos, ficávamos à vontade para lhe perguntar algo e até conversarmos com ele, familiarmente.
Enquanto isso, a tia Liló era uma anfitriã por excelência e que nos deixava sempre a vontade, com sua voz suave e a lhaneza do trato!

DATILOGRAFIA
O tio Mário tinha um escritório no centro da cidade, na Rua Major Facundo, em Fortaleza, que distava a poucas casas do escritório de representações, Benjamim Torres & Cia, pertencente ao meu tio Sebastião que ficava numa casa térrea. O escritório do tio Mário era num primeiro andar, bem amplo! Lá estavam instalados alguns birôs, várias estantes apinhadas de livros. Além dos livros de direito, havia romances e literatura de todo o tipo, numa impressionante quantidade. Até me lembrava duma livraria comercial e veja que na sua residência havia também muitas estantes e não menos lotadas de livros.
Lá se acomodavam também umas cinco máquinas de datilografia, de origens diversas. Tudo isso o meu tio usava sozinho, pois no escritório em que ele era o único dono, só ocasionalmente emprestava em parte a amigos e colegas
Seu único empregado, que zelava aquele patrimônio, era um fiel escudeiro o Luiz, um pretinho franzino e alto que tinha especial carinho pelos objetos e pelo meu próprio tio Mário.
Naquele tempo, os jovens ambicionavam usar a datilografia, que era utilizada pelos que pretendiam fazer concursos ou outros empregos, em que a atividade era necessária. 
Dado a quantidade de máquinas de escrever que ficavam sempre disponíveis no escritório do meu tio que por lá passava poucas horas, dado aos afazeres externos, idas ao Fórum, etc, tive a ideia de aprender datilografia lá e consultando-o para esta tarefa, ele não se fez de rogado e acedeu de imediato. Como já transpareci, o meu querido tio nada negava aos sobrinhos!
Comprei uma resma de papel ofício, um livreto de instruções e dei início imediato, ao meu aprendizado de datilografia, o que poupava uma mensalidade paga num curso desta especialidade, dispendiosa ao meu pai, homem de poucas posses!
Comecei as longas e tediosas lições, preenchendo as folhas alvas de papel com as letras datilográficas. Inicialmente na linha horizontal média, do teclado da máquina, a-s-d-f-g, em seguida ç-l-k-j-h,sendo que ao primeiro grupo correspondia aos dedos da mão esquerda e o segundo, aos da mão direita; a lição seguinte seria direcionada à primeira linha horizontal da máquina q-w-e-r-t e na mão direita p-o-i-u-y, até a linha horizontal inferior do teclado, o que correspondia às últimas lições.
Foi assim, com meu esforço próprio e a colaboração preciosa do meu tio que aprendi a datilografia, nos conceitos da minha época, já que hoje em dia não mais existem escolas com aqueles cursos e as crianças já possuem o teclado nas suas cabeças,desde a mais tenra idade. Graças aos vídeo games, computadores e celulares!
Outro adendo é que eu tinha o direito de escolher a máquina para o meu aprendizado e até isto o meu tio permitiu-me escolher a sua máquina Olympia, alemã de fabricação e com um desempenho mais confortável que as outras, pois mais livre e macio o acionamento das teclas, fruto da tecnologia alemã, a melhor da época.

OS LIVROS EMPRESTADOS.
A despeito do carinho e extremo zelo que dedicava aos seus livros, como já salientei, meu tio era incapaz de recusar o pedido de um sobrinho.
Insinuei que gostaria de ler alguns dos seus livros. Sempre apreciei a leitura! Meu tio concordou de imediato e assim, tive acesso à leitura dos mais variados assuntos e às vezes, levava para ler na minha casa, até cinco obras que as lia com interesse e as manuseava cuidadosamente, antes de devolvê-las às estantes onde ele as guardava, sempre com imenso carinho.
A cada destes passos, mais crescia a minha admiração e o afeto que me despertavam o grandioso advogado e nobre pessoa, dignos da nossa vaidade pelo parentesco tão próximo e, por reconhecer-lhe a invejável cultura e o celebrado talento.
Era sobejamente admirado nos meios jurídicos e estimadíssimo pelos amigos e colegas que se curvavam sempre à sua cultura e a mansidão no trato pessoal.


Walmar Coelho

domingo, 1 de abril de 2012

Quantas cores possuem o mundo? - Sandra Coelho



Quantas cores possuem o mundo?

Quantas cores possuem o mundo?
Ah! Possuem muitas e muitas...
O mundo é feito de mil cores, mil sabores, mil dores, mil amores
Muitos não percebem sua sutil nuance
Ficam fechados, presos em si mesmo
As cores do mundo são livres e os entretons, delicados
Brilham com o passar do tempo
Refletem no espaço envolvente
Mas, as delicadas das cores do mundo
São para poucos diante da necessidade
Do coração, que deve acompanhar a visão
O imaterial fica além do toque
E o sublime amplia o sentir d'alma
Este é o segredo para ver e experimentar
Todas as cores do mundo

(Texto e desenho de Sandra Coelho)