sábado, 22 de setembro de 2012

A tia Yayá - Por Walmar Coelho


A minha querida tia era uma criatura doce, agradável  e rara, como o mel da jandaira!
Foi um elo precioso e forte na amizade e amor solidário que unia os irmãos Coelho e estes adoravam essa irmã única, numa retribuição de afeto. A outra irmã, Sylvia, já havia morrido na década de quarenta do século passado, quando se passaram também, todos os fatos aqui postados.

Ainda jovem, uma mocinha muito bonita, a tia Yayá foi alvo das investidas amorosas de um militar em Cascavel. Ante a sua recusa, o pretensioso namorado vingou-se lhe desferindo alguns tiros que não a mataram por sorte, mas custaram-lhe demorados cuidados médicos que, graças a Deus, a reabilitaram.

A família Coelho, muito pacífica e ordeira, nunca absorveu o triste episódio que jamais era comentado e sempre  tratado com rigoroso silencio. Meu pai só disse-me o caso quando eu já era homem feito e mesmo assim, pedindo-me que evitasse divulga-lo!

Ela casou-se com um homem franzino de média estatura, moreno de cabelos lisos, Chico, que em Cascavel exercia o ofício de alfaiate. Com o tempo, o casal veio morar em Messejana, distando doze quilômetros de Fortaleza, habitando uma grande e aprazível casa, situada no meio de um sítio com as mais diversas fruteiras.

A citação do tipo físico do Chico tem um sentido. A minha avó Sinhá (Raimunda) era muito racista e foi recebida pelo citado casal, naquela casa, por anos seguidos até a data de sua morte! Lembro-me que ela e tia Yayá eram adeptas fiéis das novelas que naquele tempo só chegavam em reproduções das rádios do sul do país. Quando visitava a minha tia, lembro-me das mãe e filha com ouvidos encostados num rádio grande, daqueles antigos, para melhor captarem os sons que chegavam pouco audíveis.

Depois da morte do Chico, tia Yayá decidiu vender a casa e ir morar em Fortaleza.
Neste período foi que ela contou com o imenso carinho que meu pai lhe dispensou, ao cuidar das suas finanças, das compras de alimentos e sobretudo da sua saúde já que minha tia era sujeita a frequentes e perigosas crises de asma. Neste mister foi Walter o único irmão a lhe prestar assistência já que os outros já haviam morrido, ou no caso do tio Adauto, mais novo que ele,  se encontrava com séria enfermidade. A tia Yayá contava em casa, com a companhia de uma preta velha, a Carmélia, que generosa e fiel lhe acompanhou até seus últimos dias.
Minha tia havia se instalado para seus últimos anos, numa modesta casa na capital, com poucos cômodos.

Naquela época, lembro-me que pedi ao meu querido primo Gerardo Coelho, sua participação para darmos à idosa tia, uma televisão nova para sua distração. Nós dois dividimos a despesa para a compra do precioso objeto que teria uma serventia incomum para aquela notável apreciadora das novelas.


Walmar Coelho

sampco@uol.com.br

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